09 agosto 2010

Mapa dos estudos de gênero no Brasil

Depois de quase um ano sem atualização do blog e ainda assim com a impressionante quantidade de 650 visitante únicos no último mês (Google Analytics), estamos reativando o Gêneros Jornalísticos, agora com domínio próprio: www.generosjornalisticos.com. Passada a fase de depressão pós-parto com a tese e muito estudo para concursos, tive a felicidade de trabalhar um semestre com a disciplina Gêneros Jornalísticos na UFRB, o que me trouxe boas perguntas, novas hipóteses, enfim, um bom aprendizado, que deve continuar, já que, agora na Facom-UFBA, darei a mesma disciplina como optativa. Ao comemorar esta nova fase,  e um tanto incentivada pelo professor e colega Manuel Pinto em agradável café nesta última semana, é hora de dividir este aprendizado com vocês!


Eu não poderia não recomeçar citando o novo livro organizado por Marques de Melo e seu orientando Francisco de Assis: "Gêneros Jornalísticos no Brasil'. Alguns motivos: a importância do professor Marques de Melo nesta área, a atualização de um mapeamento dos estudos de gênero jornalístico no Brasil e, por último, mas não menos importante, claro, sem falsa modéstia, por nossa tese e nosso blog terem aparecido no artigo como uma "pista emergente". Ah, eu devo admitir que fiquei lisonjeada e agradeço, desde já, ao professor José Marques.
Editora Metodista

Vamos ao artigo!

No artigo "Gêneros Jornalísticos: conhecimento brasileiro", depois de explicar o crescimento da necessidade de se compreender os gêneros em função das novas mídias, o autor incursa por três grande vias: 1) Marques de Melo refaz todo o seu percurso acadêmico de estudos dos gêneros (décadas de 70, 80 e 90); 2) apresenta dissertações e teses sobre gêneros jornalísticos nos mais diversos dispositivos; e 3) indica pistas emergentes.

Na parte 1, algumas conclusões a que Marques de Melo chegou:

  • " [...], o comportamento dos gêneros não se altera significativamente, como tem sido demonstrado. [...]" (p. 29)
  • "Se algum detalhe chamou a atenção nessa pesquisa foi a estratégia diferenciada de tratamento temporal dado às unidades pertencentes ao gênero informativo. [...]" (p 29)
  • "Esse conjunto de observações empíricas realizadas durante os anos 90 reafirmou a tese de que o jornalismo brasileiro permanece polarizado entre os gêneros informativo e opinativo. [...]" (p.29)
Um único comentário. Ainda apostamos na divisão entre jornalísticos e jornálicos (em nosso livro, p.298), a despeito da dificuldade em se compreender onde está a finalidade, se na composição discursiva ou na instituição jornalística ou ainda como se dá essa relação (a resposta de Patrick Charaudeau não nos convence).

Na parte 2, o autor cita os seguintes autores, nesta ordem: Jaqueline Rios do Santos (1996, dissertação, revistas femininas); Tyciane Viana Vaz (2009, dissertação, o chamado "gênero utilitário"); Ana Carolina Temer (2001, tese, "jornalismo de serviço"); Nivaldo Marangoni ( 1998, dissertação) e André Barbosa Filho (2001, dissertação) sobre gêneros no rádio ; Janine Marques Passini Lucht (2009, tese, gêneros em rádio segmentada); Lailton Alves da Costa (2008, dissertação) e Virgínia Salomão (2009, tese), gêneros jornalísticos e tendências regionais.

Na parte 3, intitulada "Pistas emergentes", Marques de Melo fala sobre o interesse dos cientistas da linguagem pelo estudo dos gêneros (como explicado em Zoom no Siget). Destaca o trabalho do respeitado linguista Adair Bonini (UFSC), analisando-o como:

1. Conclusões

"Seu inventário incluiu textos didáticos, obras teóricas, manuais de redação e dicionários especializados, ensejando duas conclusões: 1) a literatura revisada "oferece uma rica quantidade de rótulos relativos aos gêneros e às atividades com gêneros"; 2) essa literatura "trabalha com um conceito de gênero já ultrapassado em outros campos do debate acadêmico"." (p. 35)

Nós concordamos com as duas conclusões.

2. Equívocos
"[...] Mas inclui equívocos ou incompreensões do tipo: a) confundir o suporte (jornal) com o território habitado pelo gênero (mensagem), atribuindo-lhe o status de "hipergênero"; b) os autores da área "partem da concepção de que os gêneros são fixos (e não dinâmicos), não relatando suas dificuldades na identificação desses gêneros no jornal"; ou c) os textos acadêmicos "não aplicam o conceito de gênero do modo como vem sendo concebido nos círculos acadêmicos nacionais e internacionais que tratam do assunto" (p. 35)

Também concordo em gênero (ops!), número e grau. 

Outro pesquisador da linguística também é citado: Carlos Henrique Kauffmann (PUC-SP, 2005), cuja disssertação sobre variações linguísticas no jornal impresso chegou à conclusão de que: "as dimensões resultantes reforçam a tese de Marques de Melo, síntese de uma leitura profunda da literartura, de que existe nos gêneros uma cisão básica entre opinião e informação" (p. 35).

E, por fim, nosso trabalho:

"Não obstante, vinculada ao campo do jornalismo, mas animada pelas veredas abertas pelas ciências da linguagem, para compreender a configuração dos gêneros jornalísticos no cenário da sociedade digital, a pesquisadora baiana Lia Seixas (2008) dedicou sua tese de doutorado a este objeto. Mais do que isso, instituiu um fórum de debates sobre a temática dos gêneros jornalísticos na internet, mobilizando jornalistas, linguistas e outro interessados.

Descontente com os "critérios de definição de gêneros jornalísticos", ela se propõe a fazer "uma outra classificação". Depois de uma revisão cuidadosa da literatura e da críticados seus postulados teóricos, Seixas propõe como critério fundante da nova classificação (SEIXAS, 2008, p. 293).

A inquietação de Lia Seixas e de outros pesquisadores ecoou suficientemente na academia, justificando a criação de um fórum permanente sobre a "ponta do iceberg" representada pelos gêneros na crise enfrentada pelo jornalismo no advento da sociedade digital." (p.36)


O fórum permanente a que o professor José Marques se refere é o Grupo de Pesquisa em Gêneros Jornalísticos da Intercom, que criou no ano passado, quando também começou o novo GT de Gêneros Jornalísticos, no qual apresentamos o artigo "Gêneros Jornalísticos: partindo do discurso para chegar à finalidade" (disponível na íntegra em scribd). Este artigo procurou reforçar uma outra "tese da tese", ao lado desta  (gênero como noção transmidiática) que o professor José Marques chamou a atenção: a de que a finalidade como critério de definição tirou do pesquisador a possibilidade de vê-lo funcionando por dentro. A ideia é: nao começar a análise pela finalidade, mas, sim, chegar a ela ao final da análise.

Portanto, é com satisfação e alegria que retomamos o blog generosjornalisticos. Esperamos continuar a contribuir para o conhecimento dos gêneros jornalísticos, um conhecimento, hoje temos certeza, está nas teorias do jornalismo. Apenas um argumento: enquanto os conceitos de interpretação, informação, competências, apuração ainda forem somente noções ou termos, não há como se ter algo nem próximo de teorias dos gêneros jornalísticos.

Site dedicado ao estudo dos gêneros jornalísticos. Criado durante nossa tese de doutorado, 2005. Esse novo layout abre um novo ciclo de estudo, pesquisa, descobertas sobre esse tema tão caro à prática jornalística e ao conhecimento sobre o jornalismo.

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