Mapa dos estudos de gênero no Brasil
Depois de quase um ano sem atualização do blog e ainda assim com a impressionante quantidade de 650 visitante únicos no último mês (Google Analytics), estamos reativando o Gêneros Jornalísticos, agora com domínio próprio: www.generosjornalisticos.com. Passada a fase de depressão pós-parto com a tese e muito estudo para concursos, tive a felicidade de trabalhar um semestre com a disciplina Gêneros Jornalísticos na UFRB, o que me trouxe boas perguntas, novas hipóteses, enfim, um bom aprendizado, que deve continuar, já que, agora na Facom-UFBA, darei a mesma disciplina como optativa. Ao comemorar esta nova fase, e um tanto incentivada pelo professor e colega Manuel Pinto em agradável café nesta última semana, é hora de dividir este aprendizado com vocês!
Eu não poderia não recomeçar citando o novo livro organizado por Marques de Melo e seu orientando Francisco de Assis: "Gêneros Jornalísticos no Brasil'. Alguns motivos: a importância do professor Marques de Melo nesta área, a atualização de um mapeamento dos estudos de gênero jornalístico no Brasil e, por último, mas não menos importante, claro, sem falsa modéstia, por nossa tese e nosso blog terem aparecido no artigo como uma "pista emergente". Ah, eu devo admitir que fiquei lisonjeada e agradeço, desde já, ao professor José Marques.
Vamos ao artigo!
No artigo "Gêneros Jornalísticos: conhecimento brasileiro", depois de explicar o crescimento da necessidade de se compreender os gêneros em função das novas mídias, o autor incursa por três grande vias: 1) Marques de Melo refaz todo o seu percurso acadêmico de estudos dos gêneros (décadas de 70, 80 e 90); 2) apresenta dissertações e teses sobre gêneros jornalísticos nos mais diversos dispositivos; e 3) indica pistas emergentes.
Na parte 1, algumas conclusões a que Marques de Melo chegou:
Eu não poderia não recomeçar citando o novo livro organizado por Marques de Melo e seu orientando Francisco de Assis: "Gêneros Jornalísticos no Brasil'. Alguns motivos: a importância do professor Marques de Melo nesta área, a atualização de um mapeamento dos estudos de gênero jornalístico no Brasil e, por último, mas não menos importante, claro, sem falsa modéstia, por nossa tese e nosso blog terem aparecido no artigo como uma "pista emergente". Ah, eu devo admitir que fiquei lisonjeada e agradeço, desde já, ao professor José Marques.
Editora Metodista |
Vamos ao artigo!
No artigo "Gêneros Jornalísticos: conhecimento brasileiro", depois de explicar o crescimento da necessidade de se compreender os gêneros em função das novas mídias, o autor incursa por três grande vias: 1) Marques de Melo refaz todo o seu percurso acadêmico de estudos dos gêneros (décadas de 70, 80 e 90); 2) apresenta dissertações e teses sobre gêneros jornalísticos nos mais diversos dispositivos; e 3) indica pistas emergentes.
Na parte 1, algumas conclusões a que Marques de Melo chegou:
- " [...], o comportamento dos gêneros não se altera significativamente, como tem sido demonstrado. [...]" (p. 29)
- "Se algum detalhe chamou a atenção nessa pesquisa foi a estratégia diferenciada de tratamento temporal dado às unidades pertencentes ao gênero informativo. [...]" (p 29)
- "Esse conjunto de observações empíricas realizadas durante os anos 90 reafirmou a tese de que o jornalismo brasileiro permanece polarizado entre os gêneros informativo e opinativo. [...]" (p.29)
Um único comentário. Ainda apostamos na divisão entre jornalísticos e jornálicos (em nosso livro, p.298), a despeito da dificuldade em se compreender onde está a finalidade, se na composição discursiva ou na instituição jornalística ou ainda como se dá essa relação (a resposta de Patrick Charaudeau não nos convence).
Na parte 2, o autor cita os seguintes autores, nesta ordem: Jaqueline Rios do Santos (1996, dissertação, revistas femininas); Tyciane Viana Vaz (2009, dissertação, o chamado "gênero utilitário"); Ana Carolina Temer (2001, tese, "jornalismo de serviço"); Nivaldo Marangoni ( 1998, dissertação) e André Barbosa Filho (2001, dissertação) sobre gêneros no rádio ; Janine Marques Passini Lucht (2009, tese, gêneros em rádio segmentada); Lailton Alves da Costa (2008, dissertação) e Virgínia Salomão (2009, tese), gêneros jornalísticos e tendências regionais.
Na parte 3, intitulada "Pistas emergentes", Marques de Melo fala sobre o interesse dos cientistas da linguagem pelo estudo dos gêneros (como explicado em Zoom no Siget). Destaca o trabalho do respeitado linguista Adair Bonini (UFSC), analisando-o como:
1. Conclusões
"Seu inventário incluiu textos didáticos, obras teóricas, manuais de redação e dicionários especializados, ensejando duas conclusões: 1) a literatura revisada "oferece uma rica quantidade de rótulos relativos aos gêneros e às atividades com gêneros"; 2) essa literatura "trabalha com um conceito de gênero já ultrapassado em outros campos do debate acadêmico"." (p. 35)
"Seu inventário incluiu textos didáticos, obras teóricas, manuais de redação e dicionários especializados, ensejando duas conclusões: 1) a literatura revisada "oferece uma rica quantidade de rótulos relativos aos gêneros e às atividades com gêneros"; 2) essa literatura "trabalha com um conceito de gênero já ultrapassado em outros campos do debate acadêmico"." (p. 35)
Nós concordamos com as duas conclusões.
2. Equívocos
"[...] Mas inclui equívocos ou incompreensões do tipo: a) confundir o suporte (jornal) com o território habitado pelo gênero (mensagem), atribuindo-lhe o status de "hipergênero"; b) os autores da área "partem da concepção de que os gêneros são fixos (e não dinâmicos), não relatando suas dificuldades na identificação desses gêneros no jornal"; ou c) os textos acadêmicos "não aplicam o conceito de gênero do modo como vem sendo concebido nos círculos acadêmicos nacionais e internacionais que tratam do assunto" (p. 35)
Também concordo em gênero (ops!), número e grau.
Outro pesquisador da linguística também é citado: Carlos Henrique Kauffmann (PUC-SP, 2005), cuja disssertação sobre variações linguísticas no jornal impresso chegou à conclusão de que: "as dimensões resultantes reforçam a tese de Marques de Melo, síntese de uma leitura profunda da literartura, de que existe nos gêneros uma cisão básica entre opinião e informação" (p. 35).
E, por fim, nosso trabalho:
"Não obstante, vinculada ao campo do jornalismo, mas animada pelas veredas abertas pelas ciências da linguagem, para compreender a configuração dos gêneros jornalísticos no cenário da sociedade digital, a pesquisadora baiana Lia Seixas (2008) dedicou sua tese de doutorado a este objeto. Mais do que isso, instituiu um fórum de debates sobre a temática dos gêneros jornalísticos na internet, mobilizando jornalistas, linguistas e outro interessados.
Descontente com os "critérios de definição de gêneros jornalísticos", ela se propõe a fazer "uma outra classificação". Depois de uma revisão cuidadosa da literatura e da críticados seus postulados teóricos, Seixas propõe como critério fundante da nova classificação (SEIXAS, 2008, p. 293).
A inquietação de Lia Seixas e de outros pesquisadores ecoou suficientemente na academia, justificando a criação de um fórum permanente sobre a "ponta do iceberg" representada pelos gêneros na crise enfrentada pelo jornalismo no advento da sociedade digital." (p.36)
O fórum permanente a que o professor José Marques se refere é o Grupo de Pesquisa em Gêneros Jornalísticos da Intercom, que criou no ano passado, quando também começou o novo GT de Gêneros Jornalísticos, no qual apresentamos o artigo "Gêneros Jornalísticos: partindo do discurso para chegar à finalidade" (disponível na íntegra em scribd). Este artigo procurou reforçar uma outra "tese da tese", ao lado desta (gênero como noção transmidiática) que o professor José Marques chamou a atenção: a de que a finalidade como critério de definição tirou do pesquisador a possibilidade de vê-lo funcionando por dentro. A ideia é: nao começar a análise pela finalidade, mas, sim, chegar a ela ao final da análise.
Descontente com os "critérios de definição de gêneros jornalísticos", ela se propõe a fazer "uma outra classificação". Depois de uma revisão cuidadosa da literatura e da críticados seus postulados teóricos, Seixas propõe como critério fundante da nova classificação (SEIXAS, 2008, p. 293).
A inquietação de Lia Seixas e de outros pesquisadores ecoou suficientemente na academia, justificando a criação de um fórum permanente sobre a "ponta do iceberg" representada pelos gêneros na crise enfrentada pelo jornalismo no advento da sociedade digital." (p.36)
O fórum permanente a que o professor José Marques se refere é o Grupo de Pesquisa em Gêneros Jornalísticos da Intercom, que criou no ano passado, quando também começou o novo GT de Gêneros Jornalísticos, no qual apresentamos o artigo "Gêneros Jornalísticos: partindo do discurso para chegar à finalidade" (disponível na íntegra em scribd). Este artigo procurou reforçar uma outra "tese da tese", ao lado desta (gênero como noção transmidiática) que o professor José Marques chamou a atenção: a de que a finalidade como critério de definição tirou do pesquisador a possibilidade de vê-lo funcionando por dentro. A ideia é: nao começar a análise pela finalidade, mas, sim, chegar a ela ao final da análise.
Portanto, é com satisfação e alegria que retomamos o blog generosjornalisticos. Esperamos continuar a contribuir para o conhecimento dos gêneros jornalísticos, um conhecimento, hoje temos certeza, está nas teorias do jornalismo. Apenas um argumento: enquanto os conceitos de interpretação, informação, competências, apuração ainda forem somente noções ou termos, não há como se ter algo nem próximo de teorias dos gêneros jornalísticos.
2 comentários:
Como diria Cazuza, "então vamos para a vida!". Seja bem-vinda, menina.
Muito obrigada Demétrio!
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