Por uma outra classificação [2]
Neste segundo post, trazemos os slides 12 a 24. Tratam mais especificamente dos critérios sugeridos. Embora tenhamos partido das condições chamadas extralinguísticas (finalidade, estatuto dos participantes legítimos, lugar e momento legítimos, suporte material), tratamos também de elementos intralinguísticos (organização textual), como a lógica enunciativa.
Ao invés de pensarmos a finalidade como uma condição constitutiva da composição discursiva, entendemos a finalidade como um elemento da instituição jornalística (como instituição social legítima). As composições discursivas não têm finalidade, têm lógica enunciativa, que estão, certamente, relacionadas (deve compreender melhor esse tipo de relação) à instituição jornalística.
Isso ocorre porque há uma diferença entre instituição jornalística e organização jornalística (Josenildo Guerra). A instituição é da ordem da normatividade e a organização da ordem da prática cotidiana. Essa diferença é extremamente importante para se compreender o lugar do produto e das composições. Um produto "site noticioso" ou "impresso" tem uma série de composições que não são produzidas (em todas as suas fases) pela organização, como, por exemplo, cartoons ou artigos. Esses, para nós, não deveriam, portanto, ser considerados gêneros jornalísticos.
A lógica enunciativa se relaciona com as finalidades da instituição, como sistemtizados ao longo dos estudos de gênero: informar, opinar e mediar (slide 18). Mas as lógicas enunciativas não são a mesma coisa que as finalidades institucionais. As lógicas enunciativas são formadas pela relação entre: objeto de realidade, compromisso assumido (pelo[s] autor[es]) e tópicos jornalísticos.
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Os tópicos jornalísticos são lugares-comuns sobre os objetos de realidade manipulados pelo fazer jornalístico, compartilhados pelos públicos, que autorizam determinadas conclusões. Exemplo interessante são definições de ocorrências como "palco de confrontos violentos", tragédia, revolta. Existem parâmetros intersubjetivos para se dizer que algum fato foi uma "tragédia". São parâmetros como quantidade de vítimas fatais, pessoas feridas que se configuram na formação discursiva e são aceitos intersubjetivamente.
Os compromissos são aqueles assumidos na consituição de um ato linguístico (vem do ato de fala). Para algumas composições, relacionadas à finalidade de informar, da instituição, os atos linguísticos têm que ser assertivos. O jornalista não pode achar ou duvidar de nada, ele deve ter certeza. É preciso ter certeza sobre fatos, declarações, documentos, acontecimentos, dados. Ao jornalista se cobra certeza mesmo sobre aquilo que não se pode saber, como o motivo de uma frenagem brusca de um trem de metrô. Por isso, reúne-se os dados, informações sobre os quais se tem certeza para tentar chegar o mais próximo da situação real. Para cumprir esta finalidade há uma competência exigida, a de procedimento (apuração). Daí acreditarmos que é preciso investir no conhecimento destas competências únicas do fazer-jornalístico.
Slide 13
Os objetos de realidade, sobre os quais falamos no post anterior, constituem elemento importante da formação discursiva, sistematizados aqui para a compreensão de que o fazer jornalístico não trata apenas de fatos e objetos de acordo, mas também de objetos de desacordo. Os objetos de desacordo, como conceitos por exemplo, nos encaminham para o compromisso subjetivo do autor. Por isso, são mais comuns em composições relacionadas à finalidade, da instituição, de opinar.
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A força argumentativa, um critério de definição de gênero de dimensão intralinguística, se dá por uma relação entre o grau de verossimilhança do enunciado e o nível de evidência dos objetos de realidade. A força argumentativa não é o mesmo que objetivo argumentativo, mas como trata Ducrot em sua teoria da argumentação. Consideramos, assim, que existem argumentos de acordo no discurso de produtos jornalísticos como: argumentos por comparação e pelo provável, argumentos pelo exemplo e pela ilustração, argumentos de efeito e de autoridade.
Slide 21
Um exemplo de argumento de acordo são infográficos, como o infográfico animado do Le Monde com as sondagens de opinião na última eleição presidencial da França. Um argumento por comparação que segue parâmetros aceitos, inclusive originados em outras formações discursivas como a ciência política.
O critério que parte do estatuto dos participantes é a identidade discursiva. Pensada a partir de das modalidades enunciativas de Foucault e do conceito de identidade discursiva de Charron e de Bonville, consideramos um dos elementos mais importantes na configuração de um gênero jornalístico. Além do status dos indivíduos e lugares institucionais onde óbtem seu discurso, a relação entre sujeito comunicante, locutor e enunciador é extremamente importante para se compreender quando uma composição discursiva pode ser considerada jornalística e quando não pode.
Um artigo, por exemplo, não deveria ser considerado gênero jornalístico por que é produzido fora da instituição jornalística e não está compelido por nenhuma finalidade desta instituição. O sujeito comunicante (autor) é de outro campo, é, em geral, especialista de outro domínio, mas divide esse lugar com a organização jornalística, por que esta usa a competência de reconhecimento (escolhe) e discursiva (edita). O locutor é o especialista (sua imagem pública) com participação mínima da instituição jornalística (através do nome do veículo, sua marca). E o enunciador é apenas o especialista, o único a deixar vestígios na materialidade da composição. Este jogo da identidade discursiva é muito importante para se compreender até que ponto a instituição jornalística está implicada e, com isso, quais as competências empregadas e poderes associados.
Slide 23
Por isso, neste momento, acredito que o único gênero opinativo da instituição jornalística é o editorial, por que é apenas nesta composição que o sujeito comunicante é a própria instituição jornalística através de sua marca, já que, em geral, o sujeito comunicante é desconhecido. Nestes casos, a instituição jornalística é sujeito comunicante, locutor e enunciador ao mesmo tempo.
O último critério, que partiu do elemento suporte material, são as potencialidades do médium (Debray). A partir de uma comparação com pensadores dos dispositivos e mídias, McLuhan, Debray, Mouillaud, Lev Manovich, Echevérria, Bardoel e Deuze, Palácios, analismos as propriedades/potencialidades mais importantes das mediasferas na configuração de gêneros discursivos. Neste momento, acredito que os sistemas semiológicos e a rede de transmissão e estocagem de um médium (mediasfera) são os elementos mais importantes na diferenciação de gêneros porque implicam construções narrativas diversas. Ter como fio condutor o áudio ou a imagem em movimento é diferente de ter o texto escrito. No entanto, defendemos que estas potencialidades devem ser confrontadas com os outros critérios (identidade discursiva, lógica enunciativa e força argumentativa) para se dizer que uma mudança de código semiológico é uma mudança de gênero discursivo próprio de um domínio (jornalismo).
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Ps: Assim que terminarmos a revisão final da tese (com modificações nas conclusões) disponibilizaremos nossa tese em pdf.
2 comentários:
Querida Lia,
Gostei muito do post e fiquei ansioso por ler a tua tese. Vou continuar acompanhado o blog, o qual considero uma referência no estudo sobre os gêneros jornalísticos.
Um abraço
Eduardo Freire
Obrigada, Eduardo, ainda na revisão final, mas já, já, estará disponível na net.
abraço,
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